27 de abril de 2008

Super-Homem & Batman - Gerações I




O autor, que tem realizado boas releituras de super-heróis clássicos, desta vez, criou uma saga a partir dos históricos encontros entre Superman e Batman, os primeiros super-heróis do mundo.
Todas as quatro edições desta minissérie apresentam duas aventuras completas em cada gibi. Cada uma se passa numa década distinta: 1939, 1949, 1959, 1969, 1979, 1989, 1999, 2009. Assim, cada história apresenta os heróis segundo as reformulações que sofreram nestas épocas.
Também o subtítulo Uma Saga Imaginária é outra referencia importante nesta obra. Byrne focou as famosas histórias imaginárias destes dois astros. Aventuras que fugiam da cronologia dos gibis regulares, consideradas por alguns como as mais bacanas dos personagens.

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Super-Homem & Batman - Gerações II




Após o sucesso da primeira minissérie Gerações, também lançada pela Editora Opera Graphica, estava na cara que uma seqüência não demoraria a sair. Dessa vez, John Byrne realiza o trabalho com os principais personagens do universo da DC Comics.
A diferença entre esta saga e a anterior, é o fato de Byrne expandir seu raio de ação, indo além da dupla Superman/Batman; e explorando outros grandes heróis do panteão DC. A Sociedade da Justiça e seus vários membros (com destaque para a Mulher Maravilha) compõem este primeiro capítulo.
Como em Gerações I, Byrne percorre várias décadas, iniciando a aventura em 1942, em meio aos combates sangrentos da Segunda Guerra Mundial. Rapidamente, avança para 1953, onde Diana (Mulher Maravilha) sofre uma perda irreparável.

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26 de abril de 2008

H.E.R.O (22 Edições)










A série H.E.R.O., da DC Comics, escrita por Will Pfeifer, apresenta uma versão inteiramente nova para um dos mais inusitados artefatos do universo dos super-heróis, o Disco-H. Trata-se de um apetrecho semelhante a um disco de telefone antigo, com dez símbolos alienígenas que correspondem a letras terrestres. Ao discar a palavra HERO (HERÓI), seu usuário é inexplicavelmente transmutado, recebendo super-poderes e identidades heróicas diferentes a cada transformação.

O disco fez sua estréia em House of Mystery 156, quando foi descoberto pelo gênio adolescente Robby Reed, numa história de Dave Wood e Jim Mooney. Posteriormente, a intrigante peça passou pelas mãos de Vicky Grant, Chris King (dos Titãs), Hero Cruz (na série Superboy e a Festa, publicada pela Editora Abril) e Lori Morning (da Legião dos Super-Heróis).

Já na nova série, teremos um protagonista para cada arco de histórias. "As situações, suas personalidades e valores morais são bem diferentes - e assim será o modo como farão uso (ou abuso) dos super-poderes", aponta Pfeifer. Devido à natureza descrita, a série já vem sendo considerada a "versão super-heroística" do título 100 Balas, de Brian Azarello e Eduardo Risso, da linha Vertigo. A abertura da nova revista mostrará Jerry Feldon, último possuidor do aparelho, numa cabine telefônica - não para se transformar, mas fazendo uma chamada de emergência antes de tentar o suicídio - já que os super-poderes não significaram o fim de seus problemas.

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25 de abril de 2008

HITMAN
Edições 01 à 43 + Especiais



Hitman foi criado por Garth Ennis, conhecido autor de Preacher e John McCrea. Do projeto Anti-Heróis da DC.
Aqui uma breve introdução de Hitman.

"Eu sou Tommy Monaghan, eu mato por dinheiro. É meu ganha pão. Eu ganhei poderes de um jeito tão maluco que não vou nem entrar em detalhes. Visão de raio x é legal, mas telepatia, ahhh, eu adoro telepatia!
Hoje em dia é fácil demais descolar super poderes, agente vê esses tipos toda semana: neguinho cai num reator, outro descobre que o pai era um semi-demônio, essas ladainhas ai. Se não fosse por eles eu não tava empregado, como eu disse eu mato por dinheiro. Matador comum mata gente comum, mais eu não sou comum.
Um ciborgue te atacou?
Liga pra mim.
Darkseid raptou a mamãe?
Liga pra mim.
O Monstro do Pantano assustou teus filhos?
Liga pra mim.
Ta possuído pelo Etrigan e não conhece nenhum exorcista?
Liga pra mim.
Eu sou o nº1 num ramo onde só tem eu!
As tretas super-poderosas, sobrenaturais ou simplesmente super-escrotas: é comigo mesmo"

Hitman 01
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Hitman 41
Hitman 42 (novo)
Hitman 43 (novo)

Hitman A Origem 01 De 03 - Mattas Hqbr
Hitman A Origem 02 De 03 - Mattas Hqbr
Hitman A Origem 03 De 03 - Mattas Hqbr

Hitman - Anual 01

Hitman x Lobo

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18 de abril de 2008

Marvel Zombies vs Army of Darkness




Num dos mais inusitados crossovers dos últimos anos, o inimitável Ash (Ashley J. Williams) enfrentará os super-heróis Zumbis, da Marvel.
As aventuras de Ash (interpretado no cinema por Bruce Campell) são publicadas pela Dynamite Entertainment. Marvel Zombies é o título de sucesso escrito por Robert Kirkman (de Os Mortos-Vivos) com base num arco de aventuras do Quarteto Fantástico, versão Ultimate, escrito por Mark Millar e desenhado por Greg Land, no qual os super-heróis Marvel viraram zumbis.
Marvel Zombies Vs. The Army of Darkness é uma minissérie de cinco partes), com texto de John Layman e arte de Fabiano Neves e June Chung. As capas serão de Arthur Suydam.
A capa do primeiro número é uma brincadeira com Uncanny X-Men #141, de 1981.



Resenha Por Sérgio Codespoti (http://www.universohq.com/)

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Army of Darkness 13 - (Prólogo de Marvel Zombies vs Army of Darkness)
Marvel Zombies vs Army of Darkness - 01
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Marvel Zombies vs Army of Darkness - 04
Marvel Zombies vs Army of Darkness - 05

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16 de abril de 2008

Contos (06)
Idílio

H

avia um reino, agora esquecido, que fora construído sobre a felicidade de seus monarcas. Era um reino justo, próspero e poderoso que nasceu no dia em que sua rainha, uma filha da Terra, passeando longe dos braços úmidos de sua mãe, apaixonou-se por um mercador que por ali passava a caminho de sua próxima venda. Numa troca de olhares e volúpias não confessadas, a elemental e o humano apaixonaram-se e fugiram para uma terra distante e desolada.

Naquele lugar que escolheram para viver construíram sua casa. Na verdade a pedra fundamental daquele grande reino. Um bloco sólido de amor e desejo, moldado em corpo e espírito pelo casal.

A jovem amava o mercador e o mercador amava a filha da Terra. E quando mais ele a amava, mais as terras da região tornavam-se férteis e ricas, pois a felicidade e o gozo da futura rainha espalhavam-se pela terra. Logo o deserto deixou de ser deserto, pois o amor deles era grande.

As pessoas começaram a chegar de todo lugar para cultivar aquelas terras férteis, construir suas casas e criar seus filhos. O povo que chegava, agradecido pela vida que o amor do casal semeou no deserto, construiu um belo e translúcido palácio e os aclamou, ao humano e a sua esposa elemental, como Rei e Rainha. E eles foram bons e justos monarcas e continuaram a se amar e o povo continuou a amá-los.

O Reino prosperou e atraiu a inveja de outros impérios, mas nenhum exército conseguiu derrotar as tropas reais e suas afiadas espadas forjadas com paixão e certeza.

Certa noite os campos, jardins e florestas do Reino floresceram com exuberância sobrenatural. O perfume doce das flores e dos frutos percorreu todos os domínios dos monarcas e os pastos transformaram-se em oceanos verdes de vida para os rebanhos. Nessa noite, finalmente, a Rainha estava grávida. Quando a criança nasceu, uma menina, as colheitas, o vinho e as danças foram melhores do que nunca e tratados de paz com reinos vizinhos foram assinados.

Restava apenas um império que representava alguma ameaça, embora seus exércitos já houvessem praticamente se dispersado. No entanto, seu astuto rei resolveu fazer uma última tentativa enviando um exército de uma só pessoa: sua filha única.

A bela filha do beligerante monarca foi recebida no palácio translúcido como uma prova de boa vontade do casal de governantes. Ela ficaria o tempo que quisesse, conheceria as benesses do Reino e falaria a seu pai, quando retornasse, como seria bom fazer a paz e comerciar com aquele reino alicerçado no amor de seus regentes.

E assim ela ficou. Fez-se amiga dos monarcas, dos criados, dos habitantes que conheceu e jurou a todos que, em cada carta que escrevia a seu pai, tentava convencê-lo a assinar um tratado de paz.

A filha do reino vizinho era muito jovem e muito bela e logo começou a chamar a atenção do monarca que a hospedava. Não que ele amasse menos sua Rainha Elemental, ou que ela fosse menos bela, mas ele era apenas humano e homem, sempre ansiando pelo que não pode ter .

A jovem, seguindo as instruções de seu Pai-general, logo tratou de corresponder aos olhares do Rei.

Certa noite a Princesa-soldado pediu ao Rei e à Rainha, em separado, que a encontrassem nos aposentos de hóspedes do palácio translúcido para ajudá-la a escrever a derradeira carta a seu pai, implorando a ele que assinasse o tratado de paz.

O Rei, como ela havia planejado, foi o primeiro a chegar, pois ela marcou horas diferentes para cada um. Ela o esperava nua, seu corpo moreno e perfeito era como uma aparição mágica desenhado pelo luar. O Rei hesitou, é verdade, mas por fim cedeu aos seus desejos. Ato concluído, ainda nus, ela o detém para um último beijo enquanto ele ensaia uma apressada saída da cama. A Rainha entra, bem na hora combinada com a Princesa-soldado. A monarca nada fala. Apenas bate a porta e sai correndo, enquanto o Rei apressa-se para vestir as roupas e alcançá-la.

Naquela noite, enquanto a Rainha vagava em prantos e fúria pelos corredores do palácio, ignorando as súplicas do Rei, os campos morreram, as árvores caíram, as flores murcharam e os frutos apodreceram. Um odor de alegria decomposta tomou conta do Reino.

As outrora orgulhosas tropas do Reino perderam seu ímpeto e as espadas forjadas na paixão e na certeza perderam seu fio.

Sentindo o cheiro de alegria decomposta e da fraqueza florescente no ar, o pai da Princesa-soldado ordenou a suas poucas tropas a invasão. E elas foram o bastante.

Quando finalmente chegaram, com seu estandarte vermelho-sangue, ao palácio translúcido, o prédio estava vazio. Nem o Rei, a Rainha ou o bebê estavam lá, e a Princesa-soldado jazia morta no quarto de hóspedes, com o punhal do Rei cravado em seu peito.

A Rainha Elemental nunca mais foi vista, assim como sua princesinha. Talvez tenham voltado para os braços quentes da Mãe-Terra.

-E o Rei - perguntou ávida uma das crianças sentadas, junto com alguns adultos, ao redor do Contador de Histórias na praça central da vila.

-Também nunca mais foi visto. Dizem que até hoje ele procura pela mulher e pela filha - esclarece o Contador.

O relógio badala, teimosamente avisando que é hora de ir para casa. A pequena multidão começa a dispersar-se, satisfeita com o material de sonhos que recolheu hoje do Contador.

Um velho, ao fundo, tosse e tenta pesarosamente afastar-se das pessoas. Como um Atlas de gravetos ele parece tentar carregar um peso enorme para fora da praça. O Contador de Histórias aproxima-se:

-O senhor não parece bem. Gostaria de ir até minha casa? Posso oferecer um prato de comida e uma cama para esta noite se o senhor quiser.

O velho aceita, hesitante, a oferta e eles caminham lentamente até a casa do rapaz, ali perto.

Enquanto o Contador de Histórias corre para abraçar a filhinha que vem em sua direção, o ancião pára bem mais afastado e observa à distância.

A menina, agarrada ao pescoço do pai, ri freneticamente, enquanto a bela esposa do Contador de Histórias aproxima-se e abraça esposo e filha. O Contador tira de algum bolso um botão de rosa meio murcho e triste e entrega à esposa. Ela abraça o marido com força, sorri, pendura-se em seu pescoço e beija-o apaixonadamente. Em sua mão o botão de rosa desabrocha como um sorriso vermelho de paixão fecundado pela felicidade da moça.

Os olhos do velho enchem-se de água diante da cena e da rosa vermelha.

-Você continua repetindo aquela velha história que minha mãe lhe contou? - diz a esposa.

-As pessoas adoram ouvi-la. Vou pedir a ela que me ensine mais dessas histórias - ele responde.

-Venha, vamos jantar. Filha vamos - ela chama.

-Espera. Tem um senhor... - ele vira-se, mas o velho já desapareceu nas sombras da noite nascente.

-O que foi, querido?

-Nada, nada, deixa pra lá.

E os três entram, passando pelo colorido e exuberância sobrenaturais do jardim em frente à casa.

Enquanto o velho virava uma esquina para afastar-se da casa deparou-se com uma visão totalmente inesperada: lá estava ela a sua frente: Sua Rainha Elemental. Mais velha, é verdade, mas igualmente linda. Ela não disse nada. Ele apenas a olhou e falou aquilo que esperara anos para dizer:

-Sinto muito.

Ela sorriu. E foi um sorriso que pareceu a ele capturar toda graça do mundo.

Ele seguiu seu caminho e desapareceu nas sombras.

Algum tempo depois o velho que fora rei morreu. A Rainha Elemental visitou seu túmulo e, apesar de tudo, chorou por ele. De suas lágrimas nasceu uma bela árvore, da qual, durante o ano todo, brotavam frutos agridoces.

FIM



por Rogério Prado.

13 de abril de 2008

Contos (05)
QUATRO EPÍLOGOS

Por Rita Maria Felix da Silva

Quando os novos senhores desta galáxia ergueram-se, esmagaram a humanidade e tomaram-lhe o domínio sobre incontáveis mundos, Catarina foi a única que eles pouparam, o último ser humano, e exilaram-na para vagar sozinha pelas ruínas da Terra. Assim foi por muito tempo.

Um dia, porém, Lottar Gan Amon, o caçador, veio do céu cumprir a nova decisão de seus mestres. Lacônico, contou a Catarina o que iria fazer. Ela o recebeu com resignação e silêncio. Ele disparou e o micro-projétil a fez cair em eterna animação suspensa. Eternamente em coma. Todos os processos biológicos paralisados, mas não extintos. Agora não mais poderia envelhecer ou morrer.

Olhando para o corpo caído, Lottar lembrou do que lhe haviam contado certa vez. Por um instante, esforçou-se. Parecia haver algo que precisava ser dito ou sentido, como se aquele momento tivesse um significado maior, que escapava a sua compreensão. Contudo, isso logo passou. O caçador voltou à nave e partiu. Sabia que os Mestres haviam usado genes humanos para criar a espécie da qual ele fazia parte. Mas, isto não o importava. Fizeram-no para obedecer, caçar e matar coisas: a única razão para sua existência – e isto lhe bastava.

Pelos monitores, observou a Terra se afastar rapidamente. Sem saber por que, recordou-se de Luat-jei, uma rebelde, no mundo catalogado como DNB/ZL-1.21.9.14. Ela alegava amá-lo e, antes que ele a executasse, a jovem disse:

“Seu coração pode ser tão profundo quando o espaço cósmico, porém, ao contrário deste, é vazio.”

FIM

12 de abril de 2008

Contos (04)
FIM DE ENCANTAMENTO - Parte 2


PARTE 2 - FINAL


Prólogo: Das palavras de Ya-Yllah-Yti, líder, sacerdotisa e contadora de histórias da última tribo de humanos, durante o derradeiro êxodo, nos dias finais que antecederam a extinção...

“Escutem lá fora o barulho do vento e do frio, enquanto a neve se acumula sobre a face do mundo”... É a voz da terrível noite sem lua ou estrelas (nós ansiamos pelo Sol, mas, nestes tempos, só podemos vê-lo em nossos sonhos)... Ela está ávida por derrubar nossos corpos e entregar nossos cadáveres à 'Morte', a única deusa que restou. Mas não cedam à dor em nossos estômagos ou ao desespero em nossas almas... Lembrem-se que - e isso é ainda maior que qualquer medo ou tormento - nós estamos vivos e cada uma de nossas respirações é um desafio a um universo cruel que nos rejeita...

'Continua a história, Vó!' - disse, impaciente, um dos pequenos, que, como os outros, sempre me chamava de avó.

'Sim. ' - eu disse e sorri com os dentes que ainda me restavam e senti satisfação porque ainda podia contar histórias. Então, continuei...

E assim nos foi contado. Glória aguardou naquela taberna... Seu coração e sua espada em tensa espera, enquanto seu espírito era atormentado por dolorosas lembranças e sua mente ansiava por cumprir uma promessa a muito adiada... Uma missão de sangue e ódio que definiria o futuro do mundo... E - que os Deuses, onde quer que estejam, ainda possam se apiedar de nós - nos tornou o que somos hoje..."

Glória estranhou que as dores ainda não tivessem voltado e que o vinho continuasse acomodado em seu estômago. Isso era temporário, por certo, mas realmente não importava: nada mais a interessava, excerto o que viera fazer ali.

Após alguns minutos, um artista subiu ao palco da taberna. Era um velho, de feições magras e esticadas; a barba, grande e malfeita; os cabelos, que ultrapassavam os ombros, estavam soltos e não eram bem-cuidados; vestia um tipo de túnica longa e acinzentada, coberta por símbolos que poucos ainda conseguiriam ler.

Mas o rosto era mais interessante: os olhos e a expressão daquela face carregavam algum vestígio de malignidade, de um passado perverso, de atrocidades indizíveis e de um grande poder, mas tudo parecia perdido agora, submerso e sufocado por camadas e mais camadas de tristeza, cansaço e de tempo. Era alguém que inspirava pena e, ao mesmo tempo, assombro, pois, ao olhar para ele, percebia-se sua fraqueza e questionava-se como ainda poderia estar vivo.

O velho trouxe consigo uma pequena mesa e um saco, feito de couro, do qual tirou vários objetos de aparência incomum - que bem poderiam ter sido considerados místicos ou sagrados em épocas anteriores, colocou-os sobre a mesa e bateu palmas, para chamar a atenção do público:

— Saudações! - Ele disse e curvou-se, cumprimentando a platéia - Eu sou Arius, Senhor da Magia e Mestre das Artes dos Mundos Ocultos, e hoje eu permitirei a vocês um vislumbre de meu poder!

Glória tremeu e seu coração quase parou... Mesmo após tantos anos... Era ele! As lembranças, acompanhadas pelo pânico, tomaram conta da alma de Glória e ela precisou se controlar para que não percebessem o que estava acontecendo. Por todos os Deuses - que a abandonaram naquele dia fatídico - era ele!

Ela segurou o cabo de sua espada e, por um instante, viu a si mesma saltando sobre o palco, como a mais ensandecida das feras, e partindo aquela criatura em duas, com um corte que se iniciasse na cabeça e terminasse na virilha.

(Era ele! Sua mente gritava e as lembranças explodiam diante de seus olhos. O ódio crescia a partir de seu coração e percorria seu corpo como veneno e ardia como fogo e doía e era tão intenso que ela pensou que poderia matá-la).

"Não!" - ela murmurou para si mesma. Não deveria ser daquela forma. Era necessário que ele soubesse quem era ela e porque estava ali. Assim, Glória decidiu esperar um pouco mais, até que o espetáculo terminasse. Só mais um pouco.

O velho continuou sua exibição. Cruzou os braços por um instante, curvou a cabeça, com os olhos fechados - como se estivesse se concentrando - para logo em seguida pronunciar algo em linguagem incompreensível e começar a gesticular. De suas mãos, faiscavam luzes que oscilavam entre o verde e o azul e delas se formavam pequenas imagens pouco desdém... Dragões, duendes, gigantes e guerreiros lutando entre si.

— Vejam! - o velho dizia, enquanto olhava para o público - Isso é poder! Magia! Contemplem e lembrem do que já foi o mundo! Vocês devem se admirar e temer e lembrar!

Glória analisou o discurso do mago e percebeu que algo estava escondido naquela fala: era uma súplica desesperada sobre algo essencial.

Porém, logo se iniciou uma gritaria na taberna e os outros fregueses começaram a atirar sobre o palco garrafas e canecas. Alguns objetos atingiram Arius, outros derrubaram símbolos que estavam sobre a mesa. As formas luminosas sumiram e o próprio mago usava as mãos tentando proteger-se dos projeteis, mas tombou e caiu sobre a mesa e levou ao chão os símbolos que ainda restavam.

Nesse instante a multidão parou e um riso ergueu-se de sua garganta. E eles riram enquanto Arius se levantava, dolo-rido e com um corte na testa.

— Quem quer ver essa porcaria, Arius?! - gritou um dos fregueses, um homem de armadura e que levava às costas um arco. - Vai dormir, senão a gente te mata!

Arius ergueu a cabeça e olhou para eles. Num instante de fúria, apanhou do chão um dos símbolos - a estátua de alguma divindade que Glória desconhecia - e apontou-a para o público e ficou tenso, tremendo, como se tentasse dizer ou fazer algo grandioso e terrível.

E, por fim, apenas baixou o braço, disse "Não" e foi recolher seus símbolos e sua mesa para deixar o palco. O público riu ainda mais dele e voltou a atirar garrafas e canecas, mas o taberneiro intercedeu e pediu que parassem. Os fregueses riram um pouco mais, porém atenderam e voltaram para sua bebida e suas conversas, enquanto a noite avançava e um humilhado Arius retirava-se para seus aposentos.

Glória, todavia, não riu em momento algum e seguiu Arius, que havia saído por uma pequena porta num dos cantos da taberna.

Em sua breve caminhada, o mago atravessou um pátio, que servia como depósito de lixo, nos fundos da taberna, e entrou numa pequena casa de um só cômodo. Glória empurrou a porta vagarosamente e entrou logo atrás dele.

O ambiente lá dentro era muito simples. Uma cama, algumas roupas, livros e pergaminhos empilhados no chão, ao lado da mesa e do saco, que continha os símbolos usados no espetáculo.

Arius ainda estava com a mesma túnica e colocava um tipo de pomada - feita de ervas que ele mesmo triturara - no ferimento na testa. Um gato de cor branca - muito magro, velho e feio - se enroscava em seus pés.

Sem se virar para Glória, Arius comentou:

— Vigil me disse que eu devia parar com esses espetáculos, que eles não gostam e que vão acabar me matando. Aqueles animais! Muitas vezes me questiono porque ainda me esforço por eles. Afinal, de que vale ainda existir um mundo se é para ser habitado por criaturas como aquelas?!

— Vigil? - ela indagou.

— O taberneiro - Ele respondeu. Já foi o meu melhor servo... Um guerreiro notável... Em memória aos velhos dias, ele me deixa morar aqui e comer os restos da cozinha.

Em seguida, Arius parou por um instante, como se esperasse que ela dissesse algo, e então falou:

— Você é diferente dos outros. Vi como estava prestando atenção. Não está aqui para rir de mim, não é? Veio me matar.

— Sim. - ela respondeu secamente.

Ele riu de forma suave e virou-se para ela:

— Então, pelo menos, me deixe saber por que e também me dê a chance de falar.

— É o que pretendo fazer. - ela concordou.

Arius sentou-se na cama e apontou para a mesinha que havia usado no espetáculo:

— Você pode se sentar ali. Vai servir como cadeira.

Ela fez como ele dissera.

Arius pegou o gato, que ainda se enroscava em seus pés, colocou-o sobre as pernas e começou a acariciá-lo.

— Ele gosta de carinho. É um bichinho adorável. Acredita que já foi um demônio terrível? Sério, era do tamanho desta casa. Usei-o em minhas guerras contra outros magos. Lembro que ele dilacerava um homem com uma facilidade aterra do... Mas, estou sendo indelicado: qual é o seu nome?

Ela percebeu que hesitava... Antevira aquele momento por tantas vezes em seu coração... Lembrava do que Arius havia sido e o que fizera... Mas não era dessa forma que esperava encontra-lo.

— Há muito tempo - ela começou a falar - chamavam-me de Glória, mas não uso esse nome... Há décadas... Nasci e cresci numa pequena vila camponesa, na fronteira Norte deste reino com o vizinho... Eu tinha vinte e três anos quando conheci você... Naquela época te chamavam de Ungmar Yon Varius...

— Sim - ele a interrompeu - na verdade é um título. Vem de uma língua já bem esquecida. Era muito pomposo e, por isso, fico com vergonha de traduzi-lo. Faz tempo que voltei a usar "Arius", meu nome original.

— Estávamos próximos da época das colheitas - ela continuou. Eu tinha um marido e dois filhos e eles me amavam. A vida era simples, podia não ser perfeita ou maravilhosa, mas era boa.

"Você veio no começo de uma manhã - e nos paramos nosso trabalho para olhar - liderando o maior exército que já tínhamos vistos, uma multidão de homens armados e monstros - alguns eram feras comuns e outros, criaturas mágicas.

Nós tivemos medo, mas éramos um povo tolo e hospitaleiro, por isso seu ataque nos pegou inteiramente de surpresa. Não tivemos como resistir.

Meu marido era corajoso. Se tivesse nascido em outro local, talvez tivesse se tornado um guerreiro de renome, mas isso de nada adiantou diante do machado de um gigante de pele azulada, orelhas pontudas e presas salientes. Eu o assisti cair, gritar, agonizar e morrer. Implorei por ajuda aos Deuses. Eles me ignoraram e fui atirada ao solo pelo fogo de um pequeno dragão.

Quando acordei estava acorrentada, junto com as outras mulheres e crianças da vila. Uma criatura magra, com odor de enxofre e uma aparência que, remotamente, lembrava um ser humano, me acariciava com obscenidade. Eu gritei e protestei. Ele se afastou rindo e me disse que você havia ordenado a morte de todos os homens e velhos da vila. Apenas as mulheres e crianças haviam restado para alguma coisa que você chamava de "experiências".

Não sei quanto tempo durou - pois tudo parecia um sonho delirante, mas suas "experiências" eram apenas torturas, muitas delas envolvendo Magia, e algumas foram quase inimagináveis. As crianças sucumbiram logo. Lembro dos gritos de meus filhos, de como imploravam que eu os salvasse e de como amaldiçoei você e aquelas correntes. E, uma manhã, de todo o meu povo, apenas eu restava viva.

Então, você partiu com seu exército para o Leste. Estava satisfeito, triunfante com nossa morte e ruína, mas deixou para trás um grupo de dez soldados. Cinco ou sete deles eram humanos, os outros, porém, eram coisas que prefiro não descrever.

Eu estava ferida e sangrando, cheia de queimaduras e cortes e ossos partidos, minha mente ameaçava se despedaçar e, por certo, eu não duraria viva mais do que alguns minutos. Mas você disse que eu era deles agora e que fizessem o que desejassem e depois me matassem.

Eles removeram as correntes e me arrastaram para o meio do campo.

Enquanto minha visão já começava a desaparecer, olhei para os rostos daquele grupo: Me pareceram loucos, pervertidos, malignos, pois embora meu corpo estivesse naquele estado, eles o desejavam. E eu chorei e me desesperei, mas de nada adiantava, pois não tinha forças para me defender.

Foi, quando o primeiro deles me tocou com uma pata peluda e úmida, que então aconteceu. Chamas cobriram meu corpo - e elas vinham de dentro de mim. Os ferimentos, as queimaduras, os ossos... Tudo se curou miraculosamente. Seus soldados recuaram e deviam ter fugido de mim... Mas estavam por demais assustados e curiosos e fascinados para fazerem isso.

As chamas desapareceram e eu me ergui tomada por uma fúria como nunca se viu neste mundo. Eu avancei sobre eles, as mãos nuas, enlouquecida, gritando como uma fera... Eu parti ossos, rasguei gargantas e arranquei corações e espinhas... O medo deles não me compadecia; sua fúria e suas armas eram nada diante de mim... E, logo, tudo que restou eram cadáveres, horrivelmente dilacerados, e eu de pé, no meio daquela cena, coberta com o sangue deles, e ansiosa para ir para o Leste... Para conceder a você um destino semelhante...

Porém, uma dor como nunca havia sentido antes me dominou e eu não resisti e tombei inconsciente.

Quando despertei, os corpos ao meu redor já haviam apodrecido e abutres se banqueteavam deles. Aquelas aves, todavia, não me tocaram e pareciam assustadas comigo.

Então eu vaguei, sempre tentando te alcançar e me vingar do que fizera comigo, mas nunca te alcançava, por mais que tentasse, e os anos passavam por mim e eu me desesperava..."

— Era um tipo de encanto de proteção, - Arius a interrompeu - eu o fiz para me afastar dos inimigos. Funcionava bem em alguns casos. No seu, talvez por sua natureza única, foi excepcional... Deve ter durado até recentemente. Desculpe: te interrompi de novo.

Glória o ignorou e retomou sua narrativa:

"Meu ódio por você se tornava mais forte, à medida que os anos me sufocavam e eu aprendia mais sobre o que eu havia me tornado...

Eu não envelheci um minuto sequer desde aquele dia, em que me ergui ao lado dos cadáveres, e cem anos já se passaram desde então. Também nunca mais consegui dormir.

Sou mais forte e mais rápida do que qualquer pessoa deste mundo, nenhuma doença me toca e meus ferimentos cicatrizam-se quase instantaneamente. Porém, eu não sinto qualquer cheiro ou gosto e meus olhos não enxergam cores - exceto o preto, o branco e o cinza - e minha pele não tem sensações.

Não sinto fome ou sede, nem meu estômago é mais capaz de reter alimentos. Qualquer coisa que eu tente ingerir, é vomitada em pouco tempo. Meus sentimentos se resumem a apreensão, medo ou ódio, nada mais do que isso... Alegria, compaixão ou qualquer coisa semelhante... Eu nunca mais pude sentir...

Contudo, embora não possa dormir, eu tenho pesadelos... As memórias do que você me fez, de meus sofrimentos e da vida que perdi, me atacam sem qualquer piedade e, periodicamente, os ataques são mais fortes e eu sou torturada por dores físicas ainda maiores do que você poderia imaginar. Tentei sobrepuja-las, me habituar a elas, porém descobri que é impossível.

Cem anos se passaram desde que me tornei isto... Não mais humana... Uma aberração que deveria habitar o Inferno.

Sim. Eu escutarei você e depois vou matá-lo."

Arius soltou o gato e ordenou que saísse. O animal obedeceu rapidamente.

— Não vou pedir perdão a você, - retomou a palavra Arius - porque penso que não mereço isso... Nem vou pedir que poupe a minha vida, mas acredito que após o que tenho de te contar, você estará inclinada a fazer isso:

"Talvez você se pergunte por que fiz todas essas coisas... Eu me tornei um mago ainda muito jovem. Eu vivia para aumentar meu poder e, quanto mais fazia isso, mais poder eu desejava. Talvez você não saiba, mas a Magia é um tipo de vício.

Eu cometia atrocidades porque desejava e porque podia e porque ansiava que o mundo soubesse o quanto eu era poderoso e tremessem ao escutar meu nome... Sim, hoje sei que é um tipo de loucura... E não consigo confessar isso sem me envergonhar... Mas eu planejava conquistar o mundo.

Porém, em certo instante do caminho, a Magia, a busca interminável por mais poder, começou a perder o significado para mim e minha consciência passou a me atormentar... Como um torturador.

Até hoje, eu durmo muito pouco, pois quando consigo, sou afligido por terríveis pesadelos... As memórias de meus atos... Os feitos odiosos que realizei em nome de meu orgulho e loucura... O que fiz a você e a todos os outros... Eu acordo em pânico, pedindo perdão...

Décadas atrás, essa situação tornou-se insuportável demais para mim. Abandonei minhas antigas pretensões e passei a me isolar das pessoas. Eu desejava cometer suicídio.

Mas algo aconteceu antes que eu pudesse colocar esse novo plano em prática.

Eu já havia percebido falhas em meu poder, contudo, como a Magia já não me interessava mais, não dei atenção ao assunto. Porém, havia relatos de problemas com outros magos e sobre a morte inexplicável de criaturas mágicas.

Foi então que em um de meus pesadelos... Eu tive uma revelação:

Os Deuses falaram comigo. Eles estavam cansados da humanidade e haviam abandonado-a e, ao fazer isso, levaram a maior parte da Magia com eles.

De fato, com o passar dos anos, o número de magos e feiticeiras foi diminuindo consideravelmente. Atualmente, eu sou o único mago que ainda está vivo. Todas as criaturas mágicas já morreram ou fugiram para outros planos de existência. Objetos místicos, como estes que estão aqui - e apontou para o saco onde guardava os símbolos usados em seus espetáculos - são apenas enfeites agora.

Mas, antes do ponto mais importante do que eu estou dizendo, quero falar um pouco sobre você: Eu te analisei, enquanto você falava. Sei que é algo notável, como jamais existiu neste mundo, mas não é uma criatura mágica, porque não há mais Magia suficiente no mundo para sustentar alguém como você. Você, mulher, Glória, é o resultado do que fiz, seja lá o que eu tenha feito, mas não há mais Magia em você. Talvez sobreviva a todos nós.

Agora o que eu realmente tenho a dizer é isso:

Os Deuses criaram este mundo usando a Magia e é através dela que ele se sustenta. Não escutou sobre as coisas terríveis que já estão acontecendo? Eu sou o único mago que restou, a única porção de Magia que ainda persiste. É por isso que prolongo esta vida torturante e me submeto à humilhação desses espetáculos... Porque as pessoas precisam ser lembradas da Magia, para que suas mentes me ajudem a sustentá-la.

Entende isto? Sou o último poder. Se eu morrer, não haverá mais Magia e então não haverá mais mundo também, porque sou eu, com estas mãos desesperadas, que o mantém e quando eu me for tudo mais estará condenado.

Entende porque não deve me matar? Diga-me: será que se tornou tão monstruosa a ponto de poder carregar em sua consciência o sangue de toda a humanidade?"

Então Arius parou de falar e olhou fixamente para ela:

— Você sabe que não estou louco e que não menti. É isto que seu espírito está te dizendo agora. Eu e a sobrevivência do mundo estamos em suas mãos.

Glória olhou para ele, com mais atenção do que jamais havia feito em sua vida.

E as memórias explodiam, da forma mais dolorosa, diante de seus olhos. Ela se sentia em dúvida e sua mente parecia queimar diante da indecisão.

Em desespero, Glória procurou seu próprio coração, mas ele era um lugar por demais frio, habitado apenas pelas memórias que a assombraram durante todos aqueles anos... E lhe perguntou sobre o que ela havia se tornado... E, pela primeira vez, em cem anos, lágrimas escorriam de seus olhos.

Então com um grito - que seria mais apropriado na garganta de alguma fera que houvesse fugido do Inferno, Glória sacou de sua espada e investiu contra Arius. E ele também gritava e chorava e implorava por piedade... Pelo mundo, pelo futuro e por todos os seres humanos... Mas aquilo não a deteve, nem qualquer coisa poderia...

Ela continuou por mais algum tempo, até que nada mais restava do mago Arius, além de sangue espalhado pelo quarto e pedaços de carne e de ossos.

Atrás dela, a porta foi aberta e Vigil entrou sobressaltado:

— Pelos Deuses! Eu ouvi gritos... O que você...?

Porém, ao observar os restos de Arius, o sangue que cobria Glória, a espada ainda segura em sua mão, as lágrimas caindo pelo rosto e a expressão demoníaca em sua face, o taberneiro nada mais disse e apenas ajoelhou-se e começou a chorar.

Glória saiu do quarto vagarosamente e quando atravessou a taberna, a espada ainda em punho, todos se afastavam dela com gritos horrorizados.

Do lado de fora, ainda era noite, como agora seria para sempre. Ela encostou-se em uma parede. As dores haviam recomeçado, tão fortes quanto antes e o vinho em seu estômago se revoltara. Glória começou a vomitar.

Foi quando uma voz terrível voltou a feri-lhe os ouvidos:

— Tá doente? Ah, te preocupa, não! Quando eu acabar contigo, tu nunca mais sofrer!

Era Klaus, o homem gordo, calvo e barbudo que já havia lhe incomodado naquela mesma noite. Ele segurava uma grande espada, de fabricação rústica, e estava acompanhado por Hans, seu amigo, que disse:

— Pelos Deuses, Klaus, não seja louco! Olha para essa mulher! Ela vai te matar!

— Não! - grunhiu Klaus em resposta - Eu vou acabar com essa dona! Ninguém me humilha daquele jeito!

Glória olhou para aquela fera que se imaginava um homem e quase implorou para que a deixasse em paz. Mas sabia que isso é era inútil.

Por isso ela moveu a espada, mais rápido do que poderia ser descrito, a lâmina de Klaus foi partida em duas e sua cabeça foi separada do pescoço e rodopiou no ar e atingiu o chão, sendo seguida, logo depois, pelo corpo.

Glória contemplou Hans com piedade - e rezou para que algum poder no Universo pudesse convencê-lo a não tentar vingar a morte do amigo. Talvez ela tenha sido ouvida ou não, pois Hans apenas ficou estático, olhando para a cabeça do amigo e murmurando palavras de lamento.

Glória saiu dali. Montou em seu cavalo e, ainda segurando a espada em uma das mãos cavalgou pela noite adentro na maior velocidade que o desespero poderia conceder. Ela pensou em se matar, mas, como descobrira tantas vezes no passado, isso não era possível.

E então ela continuou cavalgando até que a noite a engoliu e Glória nunca mais foi vista.

No mundo, por toda a parte onde houvesse dia, se fez noite e o sol nunca mais nasceu em canto algum e em todos os lugares a neve começou a cair sobre as cabeças de todos, bons ou maus, sábios ou tolos... E o fim de tudo começou."

Epílogo: Das palavras de Ya-Yllah-Yti, líder, sacerdotisa e contadora de histórias da última tribo de humanos, durante o derradeiro êxodo, nos dias finais que antecederam a extinção...

"'É assim que termina, Vó?' - perguntou um outro dos pequenos, que se encolhia abraçado a sua mãe tentando resistir ao frio.

'Sim' - respondi - 'Não é a primeira vez que conto essa história.. '

'Mas e Glória... O que aconteceu com ela?'- ele indagou.

'Ninguém sabe... Talvez ainda esteja por aí... Atormentada.'- respondi.

'Mas termina deste jeito?' - ele insistiu novamente e eu ri e abençoei a teimosia das crianças e então falei: 'Não, não terminou de verdade... Porque nós ainda estamos aqui e quem sabe um dia você compreenda que nós, seres humanos, somos feitos de esperança, muito mais do que de carne, sangue, ossos ou qualquer outra coisa... Mas agora vocês, pequenos devem dormir, e sonhar com o Sol e como as coisas eram e como poderão voltar a ser. Eu vou com os adultos recolher mais lenha para nossa fogueira.' - ordenei e os pequenos obedeceram.

Então, chamei dois adultos e, enrolada na pele de uma fera que eu matara há pouco tempo, saí para enfrentar o frio fora da caverna.

Pelo caminho, eu contemplava o céu e tentava aquecer meu coração: sim, a história não terminou. “Nós ainda estamos aqui.”

FIM